Veículos brancos também deixam de ser vistos como carro da firma. Consumidor jovem quer se mostrar diferente, diz especialista.
As montadoras de automóveis têm apostado nas cores para conquistar a simpatia dos jovens e diversificar os tradicionais tons de preto e prata, que dominam a frota brasileira. A Fiat, por exemplo, tem investido em cores como amarelo, laranja e azul para destacar o design do Uno. No ano passado, a Ford promoveu o lançamento no New Fiesta também de forma mais colorida, com tons chamativos de verde, vermelho e azul.
A General Motors, com o Agile, expandiu a gama de cores também para a picape Montana, que hoje tem opções em vermelho, verde e azul. A Kia Motors também tem apostado em cores fortes em seus lançamentos. Além disso, o branco começa a conquistar espaço fora das frotas comerciais e dos táxis e ganha conotação de carro sofisticado principalmente em modelos importados e utilitários esportivos. Na Volkswagen, as cores também estão presentes na linha adventure do Fox.
A designer de moda Karina Businelli relutou em trocar seu Fox por um Uno amarelo citrus, mas não se arrependeu. “No começo a cor foi negativa, mas depois me interessei. Fui para casa, conversei com meus sobrinhos mais novos e eles acharam a cor muito legal”, afirma a empresária de 32 anos. Ela diz que o noivo falou que o carro parecia uma “caneta marca-texto”, mas ele voltou atrás ao ver o interesse das crianças da família e notar o destaque que ele ganha nas ruas. Hoje, ela está vendendo o carro para abrir sua empresa. Segundo ela, diversas pessoas estão retornando seu anúncio na internet.
Para Luiz Carlos Augusto, diretor-superintendente da Jato, consultoria especializada do setor automobilístico, novas cores são uma tendência no setor. “A intenção é chamar a atenção do público jovem, que quer se mostrar diferente”, afirma.
“O jovem, quando compra um carro, ele não pensa apenas na qualidade e na beleza, ele quer se sentir bem, ver e ser visto. Ele quer que todos vejam o que ele está dirigindo”, afirma o diretor de vendas da Kia Motors do Brasil, Ary Jorge Ribeiro.
No ano passado a montadora sul-coreana promoveu o lançamento do Picanto na cor amarela durante a novela “Passione”. O carro era usado pela personagem Lorena Gouveia (uma jovem paulistana moderna), interpretada pela atriz Tammy Di Calafiori.
Durante as pesquisas sobre o Uno, a Fiat percebeu que os mais jovens optavam por carros coloridos. De acordo com a montadora, cerca de 40% dos veículos vendidos desta linha estão entre os tons de preto e prata. No entanto, começam a ganhar espaço entre os consumidores o verde box (10%), o amarelo citrus (10%) e os tons de azul (5%). Ao todo, a montadora oferece 17 cores nas quatro linhas no veículo.
Cor pode desvalorizar veículo
Existe um receio de que os carros coloridos, que fogem do prata e do preto, possam perder o valor no mercado. De acordo com Luiz Carlos Augusto, o carro colorido pode se desvalorizar entre 7% e 12%, o que na verdade já acontece neste segmento. “Esses carros vão perder valor de mercado na hora de vender”.
“Dizem que carro usado não tem cor, mas a pessoa pode fazer um bom negócio dependendo do tom do veículo”, afirma o especialista, lembrando que carros em tons de preto, prata e cinza são mais fáceis de vender no mercado de seminovos e podem perder menos valor em relação aos coloridos, já que, mesmo com a nova tendência, continuam sendo muito procurados .”A cor enjoa. Pegar todo dia um carro amarelo vai enjoar. O preto e o prata são cores neutras e não cansam”, diz Augusto.
Branco ganha espaço fora das frotas
Os tons de branco têm tudo para perder o rótulo de “carro da firma”, em outras palavras, carros comerciais ou de frota. De acordo com levantamento feito pela Jato, 6,9% dos carros comprados por pessoas físicas no Brasil (considerando uma frota de 32 milhões de veículos) são brancos. Segundo a Dupont, uma das maiores fornecedoras de tintas automotivas para a indústria, a cor representa 13% das encomendas de montadoras instaladas no Brasil.
“Há uma tendência da cor branca e, fora do país, os lançamentos são nessa cor. Isso acaba impulsionando a venda dos importados e dita uma tendência na produção nacional”, afirma Luiz Carlos Augusto. Segundo a Kia, do total de vendas do utilitário esportivo Sorento, 13% são na cor branca. Mas os dois especialistas do setor advertem que a aposta não deve ser feita nos veículos mais populares já que eles podem ficar rotulados como “carros de firma”.
Carro colorido espanta bandido
O diretor de vendas da Kia também diz acreditar que carros amarelos, vermelhos e verdes são uma boa forma de evitar que o carro seja roubado. “O carro colorido é ruim para o bandido, a probabilidade de encontrarem ele na rua é bem maior do que se ele estiver em um automóvel preto ou prata”, afirma o executivo, que destaca ainda a facilidade maior de se achar um veículo colorido em um estacionamento, por exemplo.
Fora isso, tons mais chamativos podem evitar acidentes em ruas e estradas, já que quase nunca passam despercebidos. “O país é tropical, de muitas cores, então precisa mudar um pouco esse perfil e exaltar a natureza do país”, afirma o diretor de vendas da Kia. De acordo com a Jato, os tons de prata (36,3%), preto (28,5%) e cinza (14,4%) são os mais procurados entre os consumidores brasileiros. Por enquanto, a massificação de cores representa mais da metade da frota brasileira.
Foto: Divulgação/Fiat