Atendimento é muito inferior à necessidade, relata presidente da Sociedade Capixaba de Psiquiatria
Faltam psiquiatras na rede púbica de saúde. Para muitos, essa afirmação nem causa tanto espanto. Mas é de espantar quando se descobre que uma consulta com um psiquiatra da rede pública só consegue ser marcada de oito em oito meses, ou seja, praticamente uma por ano.
Em entrevista Rádio CBN Vitória (93,5 FM), Fausto Amarante, presidente da Sociedade Capixaba de Psiquiatria e coordenador da Câmara Técnica de Psicologia do Conselho Regional de Medicina, confirmou que teve uma reunião com o secretário estadual de Saúde, Tadeu Marino, exatamente para discutir esse prolema. Ele ressalta que “existem muito poucos psiquiatras na rede pública. O atendimento é muito inferior à necessidade.”
O presidente relatou que o paciente custa a conseguir uma consulta com um psiquiatra na rede pública. E quando consegue, a receita médica esbarra nas leis que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impõe. “A Anvisa só permite que se compre remédios para 40 dias. E a rede púbica só dá remédio de graça para até 30 dias. Mas você só consegue marcar uma nova consulta de oito em oito meses”.
A questão levantada pelo médico é como fica o tratamento desse paciente. Os remédios para problemas psiquiátricos só podem ser receitados por um psiquiatra, e não por outro médico. Então, no primeiro mês, ele sai da consulta com a receita e pega o remédio de graça ou compra na farmácia, mas depois o paciente que depende do setor público não tem nova receita devido a longa espera para uma nova consulta. “E os outros sete meses? Mesmo que exista o remédio de graça, o paciente não tem acesso porque não tem receita. Ele fica a mercê de outra pessoa para conseguir uma receita”, questiona o presidente.
Durante a entrevista à Radio CBN, o médico psiquiatra Fausto Amarante também falou sobre o massacre na escola de Realengo, no Rio e Janeiro, quando o atirador de 24 anos foi chamado de psicopata pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Amarante explica que, no caso do atirador, “a mãe dele era esquizofrênica e ele também tinha características da doença. Existe uma grande diferença entre psicopata e esquizofrênico. O rapaz era esquizofrênico e ainda sofria bulling na escola”. O psiquiatra completa, afirmando que o bulling piora o estado de uma pessoa já doente e que “o ser humano tem uma tendência de procurar um lado para desvalorizar o outro.”
O médico ressaltou que a família do rapaz tentou levá-lo a um psicólogo, mas que não o levaram a um psiquiatra. A diferença está no fato de que o rapaz precisava de acompanhamento médico e com medicamentos. “O psiquiatra é médico, fez Medicina. Ele medica e começa a tratar um problema como este. O psicólogo não medica, fica no apoio com diálogo. Quando a família chega a procurar o psiquiatra, o problema já está muito grave”, explica o médico. Ao todo, foram doze crianças mortas pelo atirador, dez meninas e dois meninos.