Entenda o que é a depressão e como cuidar da doença

Uma doença que é confundida muitas vezes como simples tristeza atinge a 6% da população mundial, é grave e incapacitante

Os médicos Frederico Demetrio, Paulo Renato Carineu e Kalil Duailib no workshop Olhares sobre a Depressão em São Paulo
Falta vontade para levantar, trabalhar e viver. Uma doença que é confundida muitas vezes como simples tristeza atinge a 6% da população mundial, é grave, incapacitante e de alto custo. A depressão afeta desde crianças a idosos, mas com sintomas diferentes em cada faixa etária.

“Na criança, os indícios são diminuição do rendimento escolar, timidez, isolamento, falta de amizades. É a criança que não dá trabalho. O diagnóstico é feito pela escola”, afirma o psiquiatra, professor da Universidade de Santo Amaro e ex-coordenador de saúde mental da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo, Kalil Duailib.

Os adolescentes não costumam ficar tristes, mas irritados e briguentos. Se aliado à depressão tiver consumo de álcool, a situação é pior ainda. “O uso de bebida alcoólica é muito associado aos casos de depressão. No primeiro momento a bebida é boa, mas no segundo é depressora”, alerta o psiquiatra.

Quando chega a fase adulta a doença costuma causar dor, perda de energia e de apetite e insônia. Outros sintomas são perda de interesse e do prazer, desesperança, sentimentos de inutilidade, culpa e ideação suicida.

Segundo o geriatra da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), Paulo Renato Carineu, a depressão no idoso nem sempre se apresenta como no mais jovem, que tem sensação de tristeza, e de que não há mais razão de vida. “No idoso ela pode ter roupagens diferentes, como mudanças de atitude, desleixo pessoal, falta de motivação, dor sem explicação, sintomas de esquecimento – isso é muito importante porque tem que diferenciar de uma demência-, alteração do sono e apetite para mais ou para menos e sensação de menos valia (não sirvo para mais nada)”, explica.

Em todos os casos, é importante buscar ajuda médica. Segundo os especialistas, em média, um paciente vai em sete consultas até chegar ao diagnóstico correto de depressão. Se for necessário fazer uso de medicamentos, informe ao médico os remédios que você já utiliza. A ingestão de fármacos diferentes em conjunto pode provocar problemas graves à saúde.

Prevenção

De acordo com o psiquiatra do grupo de doenças afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Frederico Demetrio, não existe prevenção primária contra a depressão, ou seja, que evite o primeiro episódio. Mas há como evitar a repetição da doença com o tratamento adequado. Já para o geriatra Paulo Renato Carineu, no caso dos idosos, algumas atitudes são indicadas:

– Assumir o envelhecimento como realidade de vida
– Desmitificar o envelhecimento
– Começar ou dar continuidade as atividades em comunidade, na família e no trabalho, mesmo que, em menor quantidade
– Fazer exercício
– Manter os sonhos e os objetivos

A prática de atividades físicas libera endofirna, substância que causa sensações de alegria e bem-estar, assim, é uma aliada no tratamento contra a depressão

Tipos

Após os 60 anos de idade, a depressão pode ser recorrente, quando a pessoa já teve a doença em outras épocas da vida, ou recente, começou nessa faixa etária com sintomas aparentemente sem razão e de uma forma até não perceptível.

Tratamento

Na terceira ou quarta idade- após os 85 anos-, o tratamento do paciente dura pelo menos de um a dois anos e pode se estender pelo resto da vida.

Boca seca

“Há uma tendência de diminuição de saliva depois dos 60 anos de idade. Uma das razões primordiais é que o idoso tem menos atração por tomar líquido, principalmente água. Ele tende a desidratar. Ele possui pelo menos 10% menos de água do que ele tinha na meia idade”, ressalta o geriatra Paulo Renato Carineu.

Idoso dorme menos?

“Isso é um mito e nem sempre corresponde a realidade. Nós envelhecemos da mesma forma que a gente viveu. O indivíduo que sempre teve um gosto maior pelo repouso vai continuar assim. A partir dos 50 anos começa a aumentar o número de despertares durante a noite. Se acorda espontaneamente ou para esvaziar a bexiga, tanto o homem quanto a mulher. Em geral, a pessoa volta e dorme normalmente”, explica Carineu.

Quarta idade, a partir dos 85 anos

“A perda econômica, o fato do corpo físico passar a ser uma prisão e ter que depender de outras pessoas para realizar atividades que antes não precisava, é muito depressor. Por exemplo, tenho um paciente de 90 anos que quer dirigir, mas a família não permite”, conta o psiquiatra Kalil Duailib.

Dados

– 44% dos pacientes com depressão têm sua capacidade de trabalho comprometida

– 11% atribuem desemprego à depressão

– O Transtorno da Ansiedade Social antecede a depressão em 63% dos casos

Imagem: Reprodução