Carretas serão proibidas de trafegar pelas ruas de Vitória

O tráfego de carretas e caminhões por Vitória – até mesmo à noite – está com os dias contados. As infrações cometidas por seus motoristas, o risco de acidentes e o impacto que causam nas ruas da cidade é o que está motivando as mudanças no decreto municipal que regulamenta a circulação desses veículos.

O acidente ocorrido por volta das 5 horas de ontem acabou reforçando a proposta. Uma carreta que transportava um bloco de granito tombou na Curva do Saldanha, interditando parte da via por quase oito horas. O veículo vinha de Nova Venécia, no Noroeste do Estado, e seguia para Cariacica. Como acontece em boa parte dos casos, o motorista optou por passar por Vitória em vez de utilizar a Rodovia do Contorno.

É exatamente com isso que Fábio Damasceno, secretário de Transportes de Vitória, quer acabar. “Não queremos mais caminhões usando a cidade como passagem”, destacou. As mudanças na lei devem ser concluídas antes do final do ano.

Regra

A legislação atual é de 1999. Foi feita a partir de um acidente semelhante ao de ontem – e quase no mesmo local –, ocorrido em 1998. Naquela ocasião, a Avenida Princesa Isabel ficou interditada durante quase um dia.

As proibições de circulação de veículos pesados previstas pelo município estão concentradas principalmente no Centro, por faixas de horário, e pelo peso bruto total (PBT), que soma o peso do veículo e da carga.

Com a mudança, as carretas serão proibidas de trafegar pela cidade. As que carregarem ou descarregarem no Porto da Capital terão que passar pela Segunda Ponte ou pela Ponte Florentino Avidos e de lá chegarem a BR 101 pela Rodovia do Contorno, via BR 262. Haverá ainda restrições para caminhões de porte menor, mas sem comprometer o abastecimento da cidade.

A decisão foi pautada, segundo Damasceno, pelos riscos que esse tipo de veículo impõe à Capital. “Os motoristas avançam o sinal, andam em alta velocidade, fazem conversões erradas”, diz. O pior, destaca, é que transportam contêineres, pedras de granito e outras cargas pesadas que danificam a pavimentação das vias.

Há carretas – com 20 metros ou mais – que não conseguem fazer as conversões em ruas e rotatórias da cidade. Outras, pela altura da carga, enfrentam problemas com a sinalização e postes de iluminação. Há três semanas, uma delas arrancou fios e um poste, que acabou caindo em cima de sua cabine, na Ilha de Santa Maria. Com o fato, o trânsito no local foi interditado.

Damasceno observa que se o acidente de ontem tivesse ocorrido mais tarde outros veículos teriam sido atingidos e poderia ter havido vítimas. A preocupação do secretário é também a de Cinthya Maria Caiado Fraga, moradora do Bairro de Lourdes, na Capital. Toda noite, ela presencia o abuso de carreteiros. “A velocidade é muito grande, principalmente de madrugada”, relata.

Não há estatísticas precisas sobre quantas carretas e caminhões trafegam por Vitória. Segundo a prefeitura, a frota da Capital é de mais de 156 mil veículos, dos quais 21% são de caminhões e ônibus. Mas outros 130 mil veículos, de vários tipos e municípios, circulam pela cidade.

Em Cariacica, acidente destrói carro e loja
Dois acidentes ocorridos na manhã de ontem envolveram carretas e causaram destruição e interdição de vias na Grande Vitória. O primeiro deles aconteceu em Vitória, na Curva do Saldanha. O veículo que transportava uma pedra de granito de 30 toneladas acabou tombando, por volta das 5 horas.
Não houve feridos, mas o acidente provocou congestionamento para os motoristas que seguiam em direção ao Centro, já que o fluxo de veículos ficou em meia pista. Foram necessárias oito horas para a retirada do bloco, que danificou a pista. Parte do canteiro central da via teve que ser destruída para a passagem dos veículos. E houve vazamento de óleo na via.

O motorista da carreta que transportava a pedra deixou o local antes da chegada do Batalhão de Trânsito. Um colega dele disse que a pedra estava devidamente amarrada e que, por isso, a carreta tombou junto com a carga, devido ao peso do bloco.

O outro acidente aconteceu em Cariacica, às 8 horas. Uma carreta estacionada em uma ladeira no bairro Vila Capixaba desceu em marcha a ré, atingiu um carro, modelo Siena, um poste e uma loja, onde também funciona uma fábrica de móveis. Ninguém se feriu, mas a região próxima ao local ficou sem energia elétrica. O motorista da carreta, Jesus Eduardo Martins de Souza, 31, atribuiu o acidente a uma falha mecânica. Mas um dos responsáveis pela carga afirmou que o veículo estaria desengrenado.

O motorista do Siena destruído, o representante comercial Jonas Pereira, conta que havia acabado de sair do carro. “Deus me salvou”, afirmou. Os funcionários do estabelecimento atingido também estavam distantes da entrada quando ocorreu a colisão. O dono da loja, Rodrigo Moscon, 33, estava próximo ao local no momento do acidente, mas não se feriu. (Com informações de Letícia Gonçalves e TV Gazeta)

Vila Velha se prepara para rever normas
A Prefeitura de Vila Velha também prepara-se para rever a legislação que trata sobre o tráfego de carretas e caminhões no município. Hoje, as restrições dizem respeito, principalmente, ao Centro, ao bairro da Glória e nas praias da Costa, Itapoã e Itaparica. Mas o secretário de Transportes da cidade, Bruno Lorenzutti, já adiantou que não descarta a ampliação das proibições em alguns bairros. Tudo depende da conclusão de um estudo que está sendo realizado e que deve terminar em outubro. “A cidade mudou muito nos últimos dez anos, e as avenidas não estão preparadas para veículos tão pesados”, assinalou. Em Cariacica, não há legislação sobre o assunto. As restrições ficam por conta da Polícia Militar, na Avenida Expedito Garcia, em Campo Grande, e nas ruas adjacentes. “A orientação é no sentido de não trafegarem pela via, que não suporta o tráfego de caminhões pesados”, relatou Arthur Vianna, gerente de Trânsito e Transporte de Cariacica. Na Serra, também não há lei regulando o tráfego de caminhões. Segundo a prefeitura, a orientação é seguir o que determina o Código de Trânsito Brasileiro.

As restrições

Vitória

Proibições atuais

Centro. Na Avenida Jerônimo Monteiro e nas ruas Henrique Novaes, General Osório, Thiers Vellozo e José de Anchieta
Acima de 10 toneladas: Das 7h às 19h (dias úteis) e 8h às 14h (sábados), exceto domingos e feriados
Acima de 16 toneladas: Proibido até para caminhões vazios em qualquer dia e horário

Centro. Nas demais vias
Acima de 16 toneladas:
Das 6h às 20h (dias úteis)
e 6h às 14h (sábados), exceto domingos e feriados

Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes. No trecho entre as ruas Josué Prado e Paulino Müller
Acima de 16 toneladas: Proibido em qualquer dia e horário

Demais vias da cidade
Acima de 23 toneladas: Das 6h às 10h e das 16h às 20h (dias úteis), das 6h às 10h (sábados), exceto domingos e feriados

O que muda

Carretas. O tráfego por Vitória vai ser totalmente proibido, em toda a cidade

Caminhões. Haverá restrições em toda a cidade, por tonelagem

Cegonheiras. Não vão poder percorrer ruas e abastecer as concessionárias de veículos durante o dia. A proposta é que o descarregamento seja feito após as 22 horas

Podem circular. Os caminhões destinados a abastecimento e à prestação de serviços

Vila Velha

Proibições atuais

Centro e Glória.
Acima de 10 toneladas: Das 11h às 19h (dias úteis) e 8h às 19h (sábados), exceto domingos e feriados
Acima de 10 toneladas: Proibido em qualquer horário e dia, mesmo vazio

Praias da Costa, Itapoã e Itaparica
Acima de 10 toneladas:
Das 10h às 20h (dias úteis, sábados, domingos e feriados)
Acima de 16 toneladas:
Das 7h às 20h (dias úteis, sábados, domingos e feriados). Também é vedado o estacionamento em ruas dos bairros

Foto: Reprodução