BEIJO, SEXO, BOCA…
Essa combinação, sem cuidados de higiene e proteção, pode ser uma via de transmissão de inúmeras doenças. Afinal, as mucosas da boca e dos órgãos sexuais têm uma incrível capacidade de absorção e, se estiverem em contato com secreções, salivas, esperma e líquido vaginal contaminados, não é necessário nem a presença de feridas ou sangramento para que os microrganismos comecem a agir e desencadear os sintomas.
A troca de beijos, por exemplo, pode favorecer o desenvolvimento de hepatite C, gengivite e até, acredite, de cárie e de algumas doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e infecção pelo vírus HPV (o papilomavírus, um dos principais responsáveis pelo câncer de colo de útero). Já o sexo oral também pode transmitir, além de sífilis e HPV, também gonorréia e herpes. Quanto ao vírus HIV, causador da aids, ainda não existem provas de que ele possa ser transmitido pelo sexo oral ou pelo beijo, mesmo no caso em que existam feridas na boca. “Em tese, isso seria possível, mas na prática é discutível. Normalmente, as pessoas não fazem apenas sexo oral”, comenta o especialista Artur Cerri.
A sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, se manifesta na boca sob a forma de feridas, que aparecem cerca de três semanas após a transmissão e podem ser confundidas com herpes. A língua também costuma aumentar de tamanho e mudar o formato. O HPV, por sua vez, provoca verrugas e, em determinados casos, pode estar relacionado ao câncer de boca. Já a gonorréia é originada pela bactéria Neisseria gonorrhea, que provoca inflamações bucais.
HABITANTES DA CAVIDADE BUCAL
A boca serve de moradia para mais de 700 tipos de microrganismos diferentes. Para se ter uma idéia do tamanho da comunidade, em apenas um mililitro de saliva existem em torno de um a cinco bilhões de bactérias. Esses seres estranhos foram observados pela primeira vez no final do século 17, na Holanda, por Antony van Leeuwenhoek, um dono de armarinho que, por esta e outras descobertas, hoje é considerado o pai da bacteriologia. De acordo com artigo publicado pelo oncologista Dráuzio Varella, o hobby do holandês na época era explorar os recursos do recém-inventado microscópio e, após examinar a placa aderida a seus dentes da frente, ele teria ficado surpreso com a existência do que chamou de milhares de “pequenos animais”.
Hoje, os pesquisadores continuam interessados nesses minúsculos organismos e querem saber mais detalhes sobre cada um deles. O Instituto de Pesquisas Dentárias e Craniofaciais, de Rockville (EUA), por exemplo, iniciou em 2004 um estudo para catalogar, em três anos, todos os genes dos germes existentes na boca. O projeto pretende identificar 40 mil genes característicos das populações de microrganismos que se instalam e convivem nas diversas regiões da cavidade oral. O objetivo é descobrir as fragilidades dos agentes patogênicos (que causam doenças) e aqueles que oferecem proteção à mucosa oral e à dentição. A partir daí, bactérias inofensivas poderão ser modificadas geneticamente para eliminar as causadoras de cáries e outras doenças da boca.