Em uma visita técnica, realizada na manhã desta sexta-feira (03), um grupo de convidados teve a oportunidade de ver de perto que a construção do complexo cultural Cais das Artes está em ritmo acelerado. Esse grupo foi guiado pelo próprio autor do projeto, o premiado arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha, que fez uma apresentação apaixonada e rica em detalhes de sua primeira obra erguida em sua cidade natal.
“Alguns paradigmas não podem mudar, existem dimensões pré-estabelecidas na construção de um teatro. Mas a implantação desse equipamento cultural tem aspectos peculiares ao lugar. A caixa de palco e o fosso de orquestra, por exemplo, não poderiam ser instalados dentro da maré. Tivemos que subir estes elementos. Já a plateia foi desenvolvida em direção ao mar, o que nos levou a colocar os cinco pilares que a sustentam dentro Baía. Ressaltando que esse espaço será o primeiro do Estado com capacidade de absorver grandes óperas”, disse Paulo Mendes da Rocha.
Sobre o Museu, o arquiteto falou que “ele será fechado, com grandes áreas expositivas separadas por andares. A distância entre um andar e outro será de 20 metros transversos. O diferencial é que será tudo transparente, feito de cristal. Mas o sol não atrapalhará porque estará tudo voltado para o chão”.
“Sempre me emociono quando visito as obras do Cais das Artes. Eu fiz o projeto, mas tudo isso é uma obra do povo capixaba. Afinal a ideia faz com que a obra exista antes mesmo da construção. E vocês podem contar comigo até o final. Acompanharei tudo de perto”, finalizou.
Além de jornalistas, estiveram presentes na visita o governador Paulo Hartung; o governador eleito Renato Casagrande; a coordenadora do projeto Cais das Artes, Cristina Gomes; os secretários de Estado de Cultura, Dayse Lemos; de Transportes e Obras Públicas, Neivaldo Bragato; de Governo, José Eduardo Faria de Azevedo; de Comunicação, Beth Kfuri; e o diretor geral do Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes), Pedro Firme. Eles estavam acompanhados de técnicos do Governo e da construtora Santa Bárbara.
Cristina Gomes ressaltou que o “Cais das Artes não será apenas um lugar de contemplação artística, será também um espaço de formação, que provocará reflexão. No fim do ano que vem serão entregues, além da obra física, todos os equipamentos culturais prontos para uso. A elaboração de um plano estratégico de gestão já está em andamento, e a responsável por esse trabalho é a FGV Projetos, unidade de extensão de ensino e pesquisa da Fundação Getulio Vargas, uma instituição séria que possui outras experiências bem sucedidas de complexos de arte no Brasil e no exterior”.
Dayse Lemos acompanhou a visita muito emocionada. “Venho acompanhando essa obra desde o início, quando ainda estava no papel. Fico muito feliz ter participado de todo o processo e agora ver esse sonho virando realidade”, contou.
“O Cais das Artes reflete o momento atual de desenvolvimento do Espírito Santo. É um lugar que, num futuro próximo, representará nossa crença e confiança numa evolução cultural acompanhada de uma educação fundada na apreciação pela arte. É um espaço que fará com que o Estado abra caminhos para o intercâmbio de ideias, influências e criações com o Brasil e o mundo”, completou a secretária.
O governador eleito Renato Casagrande teve a chance de ver 25% da obra do Cais das Artes pronta, já na sua primeira visita. “Esse projeto foi apresentado com muito entusiasmo, e ao conversar com Paulo Mendes da Rocha, esse brilhante capixaba, tudo ficou mais claro. Agora é nítido que esse complexo cultural será ponto de referência para o Brasil. Eu tenho o compromisso, e mais do que isso, tenho alegria em dar continuidade à essa obra”, ressaltou.
Visita técnica
Na visita, os convidados conferiram que uma das fases fundamentais da obra, no qual o chamado caminho crítico do cronograma interfere diretamente, foi concluída nesta semana. Trata-se da execução das 20 estacas do teatro no mar, um serviço que exigiu muita perícia dos técnicos envolvidos na concepção do complexo cultural.
O diretor geral do Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes), Pedro Firme, explicou a dificuldade desses serviços. “Foi necessário instalar uma barca para que fosse realizada a perfuração do leito do mar, mas como encontramos muita pedra no fundo, tivemos que providenciar outros equipamentos, que não estavam previstos, para auxiliarem nos trabalhos”.
Cada pilar do teatro, dentro do mar, nascerá de um grande bloco de concreto totalmente submerso que, por sua vez, se apoia em quatro estacas. Cada estaca é constituída por aproximadamente 50 metros cúbicos de concreto, tem 120 centímetros de diâmetro e atinge 38 metros de profundidade.
O edifício que abrigará o teatro foi projetado com cinco pilares dentro da Baía de Vitória. A execução desses pilares não foi um trabalho simples, pois por ser uma fundação submersa, naturalmente envolve diversas adversidades. Tais fundações, executadas em estacas de grande diâmetro, são necessárias para suportarem as pesadas cargas do prédio.
Além do estaqueamento no mar, pelo menos outras dez frentes de serviço estão em andamento na obra. A outra parte do teatro (em terra firme) está com os pilares e as paredes sendo concretados, e já chegaram a seis metros de altura, mesmo nível do futuro palco. No museu, três dos seis pilares que sustentam o prédio estão finalizados.
Além disso, a estrutura metálica do prédio anexo ao museu está toda montada e já foram instaladas as lajes “steel deck”. Apesar de ser a menor edificação do complexo, quem passar no entorno da obra poderá ver o esqueleto de aço com 30 metros de altura.
A obra está gerando 200 empregos diretos, mas este número deve subir para 600. Para a realização deste projeto, o Governo do Estado está investido R$ 115 milhões, por meio da Secretaria da Cultura.
O complexo cultural tem a sua conclusão prevista para o final de 2011, quando passará a liderar a programação cultural nas vertentes do teatro, da música e das artes plásticas e visuais de todo o Estado.
Projeto do Teatro
O teatro será equipado para possibilitar usos múltiplos como concertos de música acústica ou amplificada, óperas, danças ou peças teatrais. Comportará 1.300 pessoas e contará com um palco de aproximadamente 600m² e com um vão livre com mais de 25 metros de altura até o teto, o que vai permitir a utilização de diversos cenários em uma mesma apresentação.
O projeto prevê também um fosso para orquestra sob o palco, com dimensões que vão atender às exigências mundiais. O público que frequentar o local contará ainda com um café que avançará por cima da água, na Baía.
Projeto do Museu
O projeto do museu contempla grandes salões com diversas alturas livres e diferentes tamanhos, totalizando em torno de três mil metros quadrados de área expositiva climatizada. As instalações poderão utilizar desde pequenos recintos, para obras que requerem ambientes controlados, a salões com altura livre de até 12 metros, para exposições de grande porte.
Esses salões serão amparados por uma série de espaços de serviços, que vão permitir, ainda, o desenvolvimento de pesquisas, palestras e ações educativas em geral. Completam o projeto do museu um auditório com capacidade de 225 lugares, uma biblioteca e um café.
O conjunto arquitetônico projetado tem como característica central a valorização do entorno paisagístico e histórico da cidade. A estrutura passará a ideia de leveza. O autor do projeto, o arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha, decidiu suspender os edifícios do solo, de modo a permitir visuais livres e desimpedidos, desde a praça até paisagem ao redor. O visitante contemplará através de janelas e rampas envidraçadas o Convento da Penha e a Terceira Ponte.
Os dois edifícios que compõem o conjunto arquitetônico do Cais das Artes estão sendo implantados em uma grande praça, que será uma extensão do museu e do teatro, pois ela abrigará eventos ao ar livre, como exposições e até encenações.
Imagem:Reprodução/Thiago Guimarães/Secom