Saúde bucal pode evitar endocardite

Saúde bucal pode evitar endocardite

Poucas pessoas conhecem a ligação entre saúde bucal e doenças do coração apesar do esforço dos médicos em popularizar as informações. Uma das doenças que pode ser manifestada nessa relação é a endocardite infecciosa. Mesmo sendo um mal raro na população geral (a estimativa é de 5 casos para cada 100 mil habitantes/ano), tem incidência elevada em pessoas portadoras de cardiopatias, e os altos índices de mortalidade preocupam.

A endocardite é uma infecção que atinge o endocárdio, camada que reveste o coração internamente. Pode ser desencadeada por bactérias – sendo chamada de bacteriana – provenientes da boca e do intestino, por exemplo. Existem outros tipos desencadeados também por fungos, clamídias e micoplamas. O diagnóstico precoce e a prevenção são as melhores armas para evitar complicações.

A endocardite bacteriana apresenta sintomas como perda de peso, falta de ar e tosse, mas como lembra Max Grimberg, diretor da Unidade Clínica de Valvopatia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, a doença tem sido diagnosticada cada vez com mais antecedência o que reduz o aparecimento dos sintomas. Grimberg diz, no entanto, que no início a presença de febre contínua é bastante comum (cerca de 90% dos casos). De forma que, quem está predisposto a desenvolver a doença deve procurar por um médico quando detectar um quadro febril constante.

GRUPO DE RISCO

A endocardite bacteriana atinge índices mais elevados no chamado grupo de risco, formado por portadores de doenças congênitas, lesões valvares e próteses no coração. Dos casos diagnosticados, cerca de 40% têm origem em bactérias provenientes da boca. Diversas bactérias habitam a boca, porém, sem causar problemas. Mas ao entrarem na corrente sangüínea (processo chamado de bacterimia) podem se tornar um grande problema.

A endocardite surge principalmente durante procedimentos mais invasivos, como cirurgias, extrações dentárias e colocação de sondas. Essas intervenções dão passagem para a entrada de bactérias na corrente sangüínea. “Ao entrar na circulação, as bactérias podem se instalar em uma válvula ou mesmo em uma prótese, desenvolvendo a doença”, conta Grimberg.

“Vale lembrar que as bactérias circulam a todo instante e, mesmo quem tem predisposição, não desenvolve a doença tão facilmente”, informa Hélio Magalhães, cardiologista do HC de São Paulo. Ele explica que para desenvolver a endocardite é preciso que haja um “cenário” propício para isso, como baixa defesa imunológica. Ou seja, seria necessário além da bacterimia um outro fator.

PREVENÇÃO

O diretor da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ricardo Simões Neves, explica que a prevenção da endocardite (na área odontológica) começa logo na primeira consulta com o preenchimento, pelo paciente, de uma ficha de anamnese. Dela constam informações sobre as doenças que a pessoa já desenvolveu, sofre e se toma ou não medicamentos.

A partir daí, segue-se a rotina normal do tratamento dentário. “A anamnese deve ser feita com muito cuidado e, na presença de qualquer característica que coloque a pessoa no grupo de risco, a profilaxia com antibióticos será recomendada antecipadamente”, esclarece Neves. Isso porque se houver necessidade de incisão o remédio cria antecipadamente proteção ao organismo. “É como se colocassem soldados à espera do inimigo”, avalia Grimberg. O medicamento é dado ao paciente uma hora antes do início do tratamento.

A presença de problemas como a gengivite também pede tratamento adequado, já que a gengiva inflamada e sangrando torna-se uma grande porta de entrada para as bactérias. O especialista recomenda retorno ao consultório a cada quatro meses.

HIGIENE – Em casa, as pessoas devem seguir rigorosamente os passos da higiene bucal completa: escovação, uso de fio dental e solução para bochecho (quando a gengiva estiver irritada). Neves lembra que essa preocupação com a limpeza da boca deve ser comum a todas as pessoas. “Mesmo quem não tem uma lesão na válvula, por exemplo, precisa dos cuidados porque no processo de envelhecimento a pessoa pode ficar exposta ao problema”, finaliza.

Quem não toma as devidas precauções, não faz a profilaxia e nem tem o hábito regular de ir ao dentista fica mais suscetível ao problema. Os especialistas lembram que no dia-a-dia já existe a bacterimia espontânea, causada por irritações na gengiva ou mesmo no ato da escovação dos dentes.

TRATAMENTO

Apesar das complicações e da alta taxa de letalidade, a endocardite é uma doença curável. O tratamento é feito com prescrição de antibióticos em doses altas, aplicado diretamente na veia do paciente. Dura entre 4 e 6 semanas. A mortalidade atinge até 15% dos casos. Em outros 20%, pode ser necessária cirurgia. “É uma doença muito grave e traiçoeira. No processo de tratamento pode ocorrer embolia (mais conhecido como derrame)”, avisa Grimberg. “A cura é possível e o tipo de antibiótico adotado vai depender do tipo da agressão e do germe”, acrescenta Magalhães.

DIAGNÓSTICO

Saber se está ou não com endocardite tem sido cada vez mais fácil, principalmente se o paciente está inserido no grupo de risco. “quando verifica-se febre contínua em pessoa com algum problema no coração é obrigatório se pensar em endocardite”, alerta Magalhães. Em casos assim, o médico faz uma avaliação clínica, coleta de sangue e, por último, uma ecocardiografia.

BOXES

PRÓTESE METÁLICA

Um outro alerta feito por Ricardo Simões Neves, diretor da Unidade de Odontologia do Instituto do Coração dos Hospital das Clínicas de São Paulo, é com relação aos pacientes que precisaram fazer substituição de válvulas e utilizaram próteses metálicas. Ele explica que essas pessoas utilizam medicamentos anticoagulantes e ficam suscetíveis a hemorragias em procedimentos cirúrgicos. “Por isso, é importante que o dentista seja avisado. No caso de uma extração, por exemplo, o profissional vai precisar de alguns produtos para controlar a vazão do sangue e evitar uma hemorragia”, conclui.

Endocardite pode vir acompanhada de tumor no intestino

Como foi citado, a endocardite pode se originar por bactérias de diversos locais. Uma delas, a streptococcus bovis, tem como porta de entrada o intestino. Normalmente, quando essa bactéria é a causa da endocardite, o paciente sofre de outra doença grave, podendo ser um tumor intestinal.

Dessa forma, como explica Max Grimberg, diretor da Unidade de Valvopatia dos Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, quando o desenvolvimento da endocardite ocorre por meio desse tipo específico de bactéria o paciente é encaminhado para realização de exames a fim de verificar a presença de um tumor.

Fonte: Agência Estado